quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Nowhere e a origem de Lost

Jeffrey Lieber foi o criador original de LOST.
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Confira os trechos do roteiro inédito publicado pela Chicago Magazine, em que ele faz um desabafo sobre o fato de ter sido demitido pela emissora ABC, antes que seu projeto inicial fosse aproveitado e modificado por J.J. Abrams e Damon Lindelof.
"Agora eu me sinto como se tivesse sido expulso da ilha, estou numa jangada porcaria a metros de distância, eles estão tendo uma festa e atirando iscas em mim."
A frase é de Jeffrey Lieber. A ilha é a ilha de "Lost".
Lieber é um dos criadores da série - foi dele parte da idéia para o primeiro episódio, e seu nome aparece nos créditos de abertura de cada episódio. Só que, logo depois de ter entregue o roteiro, ele foi demitido pela emissora ABC. Nunca conheceu o elenco da série, nunca pisou no set de filmagens no Havaí.Lieber conseguiu incluir seu nome nos créditos do programa - e receber direitos pela série - após uma briga com a ABC, emissora que exibe "Lost" nos EUA.

"O dinheiro vai para pagar a terapia", disse brincando, em entrevista à revista Chicago Mag, o roteirista, de 38 anos.A idéia inicial de "Lost"partiu do presidente da ABC Entertainment, que sugeriu algo que tivesse a ver com o filme "O Náufrago", protagonizado por Tom Hanks, e com o reality show "Survivor". E o roteirista indicado para dar início ao projeto foi Jeffrey Lieber.Depois que o projeto foi aprovado, Lieber passou semanas trabalhando no roteiro e nos personagens e se adaptando às exigências dos executivos da emissora.
Quando o piloto estava pronto e foi entregue à emissora, Thom Sherman, na época vice-presidente da ABC, elogiou o trabalho ao mesmo tempo em que trouxe uma má notícia a Lieber: "Você está fora".

O que aconteceu depois disso com "Lost" é conhecido do público. O projeto foi entregue a J.J.Abrams, que chamou Damon Lindelof e começou a tocar a história. "Eu fiquei com raiva e deprimido", conta Lieber, que afirma que o mais difícil foi a surpresa de ter sido demitido. "Entre eles terem adorado a idéia e eu ter sido demitido, aconteceu algo que eu não entendi", diz.Quando, de sua casa, ele assistiu ao primeiro episódio de "Lost", na TV, pensou: "Mostros? É sério?". A trama fantasiosa, com um quê de "Jurassic Park", o fez lembrar que os executivos da ABC haviam mandado cortar uma cena "irreal" de um ataque de tubarão. "Se na época eu tivesse apresentado o que foi ao ar, eles iriam rir da minha cara.
"O desconforto aumentou quando, em setembro de 2005, "Lost" recebeu várias indicações ao Emmy Awards, entre elas uma pelo roteiro do episódio piloto, em parte criado por ele. Vestido num recém-comprado smoking, Lieber sentou perto de Damon Lindelof. J.J. Abrams, que também concorria a melhor direção, sentou algumas fileiras na frente. Ele sentiu-se mal por estar ali. "Foi péssimo estar no meio deles e vê-los agindo como se falassem 'Quem diabos é esse cara? O que ele está fazendo aqui?'", relembra.

"Foi totalmente doloroso, eu só queria que aquilo chegasse ao fim. Foi como estar numa festa em que você sabe que sua mãe ligou e pediu para você ser convidado."Antes de colocar "Lost" no ar, a ABC teve que resolver a confusão dos créditos. Inicialmente, a emissora e a Disney tentaram escapar da arbitragem da Associação dos Roteiristas, que é quem decide casos como esse, afirmando que o projeto de Lieber era completamente diferente do programa que foi ao ar. O próprio Lieber passou semanas comparando o piloto que foi ao ar com o que ele escreveu.

"Foi fácil encontrar paralelos. Eu não me senti roubado, mas comparando os roteiros dava para encontrar muitas semelhanças." Lieber juntou dez páginas com as semelhanças e mandou para a Associação.Assim, ele ganhou o direito de ter 60% do espaço dedicado à criação nos créditos de abertura, e o restante dividido entre Damon Lindelof e J.J.Abrams.

"No meu rascunho de 'Lost', eu estava trabalhando em algo no modelo de 'O senhor das moscas' [livro que já foi citado na série], em que um pequeno grupo de pessoas, isolado do mundo real, é forçado a reinventar a socidade", conta ele. "Que versão de leis e ordem eles iriam criar? Que tipo de moralidade iria prevalecer? No centro dessa sociedade eu havia imaginado dois meio irmãos, conectados pelo pai, mas criados de forma muito diferente. Essa é a introdução", continua, nos fazendo lembrar dos personagens Jack e Claire, que são irmãos por parte de pai, mas ainda não descobriram.Hoje, ele brinca que a série está mais para "Senhor dos Anéis" que para "Senhor das Moscas".

"O maior desafio do programa era eliminar a idéia de que aquelas pessoas seriam resgatas em breve. Ninguém ia querer passar todos os episódios insistindo em resgate ou planos para escapar de lá." Lieber é pago cada vez que um episódio vai ao ar, inédito ou reprise, e anualmente recebe uma soma "de seis dígitos". Ele não se desculpa pelo pagamento. "Eu possuo parte da criação. Muita coisa aconteceu depois disso, mas eu de alguma forma fiz parte do DNA da série."Hoje, ainda não se pode dizer que a carreira de Lieber deslanchou - ele escreve roteiros - e ainda acha que tem algo a provar. "O mais difícil é que o meu maior desapontamento é minha maior fonte de reconhecimento."
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Fonte: series etc

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